Emprego na Noruega: dificuldades e processos.
Eu era uma dessas pessoas que imaginava que meus problemas de emprego acabariam no momento em que eu me mudasse para a Noruega. Inclusive pensava que o processo seria mais tranquilo, tendo em vista que eu tenho um visto de estudante. Afinal de contas, essa seria a primeira vez que eu iria entregar CVs e trocar e-mails realmente podendo trabalhar no país. Mas a verdade é que conseguir um emprego na Noruega não é tão fácil quanto parece, e por isso eu vou discutir um pouco sobre as dificuldades e processo por trás disso.
Como funciona o processo de trabalho para estudantes na Noruega?
Quem vem para a Noruega como estudante pode trabalhar apenas meio-período, com exceção de feriados e férias nos quais os estudantes podem trabalhar por tempo integral. Os empregos mais comuns de se conseguir por aqui como estudante são: garçonete, bartender, vendedora, faxineira, e outros. Além disso tudo, os estudantes não podem ser autônomos, ou seja, não podem ter seu próprio negócio. Por isso, criar uma lojinha informal nas redes sociais para vender comida e ou qualquer outra atividade que possa gerar uma renda extra não é permitida pelo governo norueguês.
Particularmente acho essa lei um tanto injusta, tendo em vista que o processo para conseguir um trampo como estudante nem sempre é tão fácil assim. Às vezes, eu penso em vender comidas brasileiras na internet por exemplo, mas aí lembro que qualquer transação e divulgação de venda pela internet pode acabar gerando um risco para o meu visto.
Triste, porém, verdade.
Por que arranjar emprego na Noruega é complicado?
Há uma infinidade de motivos que explicam a dificuldade de conseguir um emprego pela Noruega. Motivos esses que variam desde a indústria, o visto, até a nacionalidade do candidato. Independentemente dos motivos, o fato é que eu estou na Noruega há um bom tempo e até agora o número de entrevistas foi bastante limitado.
De todas as entrevistas pelas quais eu passei, a que mais me deixou triste foi a última. Não apenas pelo fato de que o entrevistador disse que ele tinha gostado muito de mim e que a entrevista tinha sido boa. Mas porque era no meu bar favorito da cidade. Mesmo com o feedback positivo, eu não passei pois perdi para outro candidato com uma experiência melhor. Justa a decisão? Sim, mas mesmo assim, fiquei triste com a situação!
Às vezes eu sinto que daqui a pouco eu vou começar a desgostar de todos os restaurantes, pubs e bares da cidade, já que quase nenhum me dá uma chance de trabalho por conta da competição apertada. Mas, o que mais me deixa desistimulada por aqui é pensar que a maioria dos meus colegas de universidade já estão trabalhando. O máximo que cheguei perto de um trabalho foi quando um restaurante de sushi me chamou para um “treinamento” bosta. Novamente, aquilo não foi um treinamento, apenas uma tática para que eu trabalhasse de graça por um dia.
A confiança abalada pelas rejeições
No Brasil eu estava criando casca grossa justamente pelas rejeições que não paravam de aparecer no meu e-mail. Por isso mesmo que eu passei a me candidatar para empregos remotos. Eu vi nos freelas a oportunidade de ser dona de mim mesma e de realizar as tarefas na hora que eu quisesse, além de ganhar uma graninha legal. Então, mesmo se eu recebesse mais de 100 nãos no meu inbox, eu continuava com a mente tranquila pois sabia que eu poderia tentar algo de forma remota. Além disso, no Brasil eu tinha a mordomia de viver com os meus pais, e isso por si só não me gerava esse imediatismo que venho sentindo para conseguir um emprego “comum” e seguro.
Conseguir um trabalho remoto também não é simples, pode ser uma tarefa bastante complicada. Mas eu sinto que é mais “fácil” do que algo tradicional dentro de uma empresa tanto no Brasil, quanto na Noruega. Sei lá, eu já me inscrevi para trabalhar como vendedora em loja e como garçonete. Também mandei currículos para área da limpeza, para minha área de marketing digital, e nada — absolutamente nada aconteceu até agora.
É frustrante e desesperador pensar que todas as horas gastas fora dos estudos para mandar currículos não me geraram tantos resultados assim.
Sei que não cabe comparação, tendo em vista que cada pessoa tem uma experiência de vida completamente diferente da minha. Mas, saber que a grande maioria ao seu redor já conseguiu um emprego na Noruega me faz desacreditar no meu potencial e capacidade para conseguir um trabalho por aqui.
Ghosting dos Recrutadores
Uma coisa que me deixa bastante irritada por aqui é que você nem sempre vai saber o status da aplicação para a vaga. Os recrutadores por aqui costumam ter o hábito de não prover feedbacks. Muitos dizem de antemão “se a gente gostar de você, a gente vai te avisar”.
A rejeição por aqui é tão séria que muitas vezes nem vale a pena dizer “não” para o rejeitado. É melhor deixar o pobre coitado a ver navios até que ele mesmo chegue a conclusão de que a vaga já foi preenchida por outra pessoa. Mas eu prefiro mil vezes receber um “não” ou, uma resolução referente a minha aplicação do que não ter resposta alguma.
Onde encontrar emprego na Noruega?
Ainda que eu não tenha conseguido um emprego ainda por aqui, não significa que eu não esteja encontrando boas oportunidades. A minha vantagem como estudante é viver em uma cidade relativamente grande que precisa de gente para trabalhar. Existem algumas plataformas legais de serem exploradas a fim de encontrar um emprego. Aqui vai uma lista para você que, assim como eu, precisa ou quer conseguir um trampo por aqui!
Grupos no Facebook
Acreditem se quiser, os grupos do Facebook são ótimas ferramentas para entrar em contato com recrutadores e trabalhadores de alguma determinada empresa. É um caminho mais rápido e fácil para fazer networking e encontrar vagas legais. Neles você também pode postar e dizer que você está procurando emprego — às vezes esse approach gera resultados e às vezes você fica no vácuo. O importante é conversar nos grupos e cavucá-los até encontrar uma oportunidade legal para se candidatar.
Os grupos no Facebook normalmente possuem títulos parecidos em inglês ou norueguês, como “Jobs in Oslo” ou “Jobs in Stavanger” ou “Jobb i Norge”, e por aí vai. Só pesquisar, pedir para entrar, e sucesso!
É bastante importante que você tenha um olho clínico para entender se a pessoa postando a vaga no grupo é de verdade ou não. Embora não seja tão comum, já aconteceu de eu encontrar fakes nos grupos que postavam vagas inexistentes. Todo cuidado é pouco no Facebook. Além disso, eu NÃO recomendo procurar emprego através da ferramenta oficial de emprego do Facebook. Foi dessa forma que fui chamada para trabalhar de graça no tal restaurante japonês. Desde aquela experiência horrível que eu somente uso os grupos do facebook.
FINN
O site FINN é uma plataforma online na qual você encontra absolutamente tudo. É como se fosse o Mercado Livre do Brasil, porém com mais variedade de coisas ofertadas. Lá você acha apartamentos à venda, roupas usadas, carros usados, além de vagas de emprego. É lá onde as empresas normalmente compartilham suas vagas. A plataforma em questão é bem parecida com o LinkedIn, na qual em alguns casos você pode se inscrever para uma vaga através do “enkel søknad” — que funciona como a candidatura simples do LinkedIn — mas na maioria dos casos, você é redirecionado para o site da empresa da vaga.
Startupmatcher
O Startupmatcher é um site que reúne startups dos países nórdicos. Por isso, ele pode ser uma boa ferramenta para aqueles que estão ainda no começo de suas carreiras. É um site interessante para aqueles que fazem parte das àreas mais valorizadas da Noruega, como engenharias, tecnologia da informação, e petróleo e gás. Além disso, também existe oportunidades para marketing e negócios.
O grande problema do Startupmatcher é que 1) a maior parte das startups ficam em cidades grandes e 2) muitas vagas não são remuneradas. No caso da Noruega, as startups divulgadas no site normalmente ficam em Oslo ou Bergen. Se você mora longe das cidades aqui mencionadas, talvez o Startupmatcher não seja a melhor opção para você!
NAV
Para quem não sabe, a NAV (Administração Norueguesa de Trabalho e Bem-Estar) nada mais é do que a agência de bem-estar público norueguesa. Ela consiste no serviço estadual de trabalho e bem-estar, e por isso seu site conta com uma página voltada para vagas de emprego. Mais uma opção para tentar achar um emprego pela Noruega!
Talvez seja um site bastante óbvio, mas realmente funciona. Já fui contatada por e-mail diversas vezes após ter me inscrevido para vagas divulgadas no LinkedIn. Não esqueça de olhar o LinkedIn toda semana, pois às vezes os recrutadores mandam mensagem por lá. Também é interessante fazer um perfil em norueguês na plataforma.
Últimas dicas para quem quer trabalhar na Noruega
Aqui vai uma lista maneirinha de dicas para conseguir um trabalho na Noruega, coisas que eu aprendi morando aqui, dicas que me foram passadas de quem já está empregado. Além disso, para mais dicas, eu recomendo os webinars gratuitos da Karin Ellis com os quais eu aprendi bastante também.
1. Mande currículos em norueguês
Mesmo que você não saiba a língua perfeitamente, tente fazer o seu CV em norueguês. Na parte de idiomas do currículo, deixe claro o seu nível de norueguês. Eu, por exemplo, escrevi meu CV em norueguês e coloco meu nível como intermediário. Também aviso por e-mails que eu ainda estou aprendendo o idioma. Dessa forma, as empresas vão entender que você realmente está tentando aprender a língua!
2. Contate os recrutadores através de telefonemas ou e-mails
Pense que os recrutadores não te conhecem, então uma boa forma para quebrar o gelo é entrar em contato com eles. Os noruegueses gostam disso pois eles se sentem mais confortávels de contratar alguém com o qual eles já tiveram algum contato de antemão. Se há alguma dúvida referente a vaga, vale a pena contatar os recrutadores. Normalmente em sites como o FINN e o NAV, você encontra o e-mail e número de telefone de quem postou a vaga.
3. Consiga uma carta de recomendação
Justamente pelo fato de que os recrutadores não te conhecem, que é bom você conseguir uma carta de recomendação ou referência de alguém que more na Noruega (e de preferência um norueguês). Pode ser uma carta de um professor ou de alguém que já trabalhou com você anteriormente, sempre há um jeito.
4. Distribua currículos pessoalmente
Não se preocupe com a carta mencionada anteriormente, ela é apenas uma mão na roda. Se você tiver a coragem de ir nos lugares e entregar o currículo pessoalmente, então parte dos seus problemas serão resolvidos. Entregar os currículos pessoalmente é uma ótima forma de se fazer notado e de quebrar o gelo novamente.
5. Realize trabalhos não remunerados para gerar experiência
Confesso que isso não me deixa muito animada não, até porque eu preciso pagar contas. Acabei incluindo essa dica, pois me disseram que é verdade e eu realmente acredito nisso. Aqui na Noruega eles valorizam muito a humildade, por isso, se demonstrar a sua humildade através do vira um plus para muitos recrutadores. Ou seja, adquirir uma experiência voluntariada ou trabalhar como estagiário pode gerar frutos no futuro, pois as empresas verão que você não tem vergonha de mostrar que você começou do zero e trabalhou árduamente para alcançar um patamar melhor.
6. Contate lugares que sejam sua prioridade primeiro
Se não há um imediatismo imenso para arranjar um emprego, meu conselho é contatar lugares que você tem muita vontade de trabalhar. É melhor focar em empresas que tenham a ver com você, do que simplesmente de sair distribuindo currículos para tudo quanto é canto. Eu, pelo menos, me sinto muito mais inspirada para escrever uma carta de motivação e conversar diretamente com os recrutadores, se eu compartilho os valores da empresa. Por exemplo, mesmo não tendo conseguido a vaga no tal bar que mencionei antes, eu sei que a entrevista só foi boa pois eu amo o local e eu sei como o bar funciona, uma vez que já fui lá diversas vezes.
7. Entenda o timing das ofertas de emprego
O mais importante para conseguir um emprego pela Noruega como estudante, é entender os momentos importantes para mandar currículos. Claro que você não deve parar de mandar CVs pois o momento não é certo, mas o que eu quero dizer é que existem períodos onde a oferta de emprego é maior. Por exemplo:
- Natal e ano novo – ofertas de vagas aumentam entre os meses de setembro e novembro.
- Férias de verão – ofertas de vagas aumentam entre os meses de fevereiro e junho.
- Todo fim de semestre – devido às desistências e aos alunos que resolvem fazer intercâmbio, mais vagas aparecem quando um semestre termina.